
Mais do que uma semana dedicada ao design, a Design Week Milão foi, neste ano, um mergulho coletivo em questões urgentes sobre o futuro do habitar, do criar e do sentir. Em meio a um cenário global marcado por incertezas e transformações aceleradas, o evento reafirmou seu papel de vanguarda, mas com um novo tom: o design que acolhe, emociona e humaniza.
Participei intensamente dessa edição, percorrendo ruas, pavilhões e galerias, observando cada detalhe com o olhar de quem há mais de 20 anos estuda o comportamento do consumidor e orienta marcas e profissionais a criarem com propósito. Como consultora internacional, meu foco esteve voltado às manifestações do luxo e do design, que hoje se estrutura menos na ostentação e mais na capacidade de gerar experiências sensoriais memoráveis.
Talk “Humanos”: design como ato de resistência afetiva
No coração dessa reflexão, tive a honra de mediar o talk “HUMANOS – Como criar e empreender em tempos de inteligência artificial e desordem”, ao lado do designer internacional Cristiano Magnoni, cofundador da Crimagno Earth
Reunimos um grupo seleto de arquitetos convidados em uma conversa potente sobre o papel do design no resgate da intuição, da empatia e da criatividade como atos de resistência diante do avanço da inteligência artificial.
Foi um momento de profunda troca, onde reforçamos a ideia de que o futuro do design não será apenas inteligente – será sensível, afetivo, humano. E que empreender, hoje, exige coragem para sentir.
Sensorialidade em alta: Hermès e a elegância do essencial
Dentre as experiências mais marcantes da Design Week, a instalação da Hermès foi, para mim, um divisor de águas. Em um cubo minimalista, a marca propôs uma jornada estética e emocional inspirada na Bauhaus: formas básicas, cores primárias e uma narrativa visual de altíssima coerência.
Mais do que uma exposição, a Hermès nos convidou a um reencontro com o essencial. Através de formas simples e retas, transmitiu segurança. Por meio das cores elementares, resgatou estabilidade. E com uma estética depurada, ofereceu uma pausa no ruído do mundo. Foi uma das experiências mais impactantes do evento — não pelo excesso, mas pela inteligência sensível da proposta.

Antonio Marras: loja-galeria que mistura moda, memória e design
Outro ponto alto foi visitar a loja do estilista Antonio Marras, um espaço que transborda poesia visual. Seu showroom, que mais parece uma instalação viva, mistura moda, arte, mobiliário e narrativa pessoal. Cada objeto carrega uma memória, cada canto é um convite à introspecção. Ali, o design deixa de ser produto e torna-se expressão emocional – um traço comum às tendências de Milão 2025.
Rossana Orlandi: a curadoria do extraordinário
A visita à Galeria Rossana Orlandi é sempre obrigatória. Em 2025, ela mais uma vez reafirmou seu papel de farol para o design de vanguarda. As peças selecionadas por Rossana apontam para um mundo onde o feito à mão, o imperfeito e o poético ganham protagonismo. Sua curadoria promove um olhar radicalmente contemporâneo: não sobre o objeto em si, mas sobre a relação que criamos com ele.
Tendências observadas: A casa que sente
Da imersão em Milão, destaco cinco movimentos fortes que irão guiar o novo morar:
1. Geometria que acolhe: Formas retangulares com cantos arredondados surgem como símbolo de suavidade emocional. Móveis e estruturas com bordas orgânicas regulam visualmente o ambiente e acolhem emocionalmente o morador.
2. O Brilho e o reflexo do eu: Superfícies espelhadas e metálicas voltam com força. O brilho se torna metáfora do autoconhecimento. Ambientes como o da Dolce & Gabbana exploram preto, branco e animal print com maestria, promovendo sofisticação e introspecção.
3. Tapeçarias como narrativas verticais: A Gervasoni apostou no retorno dos paineis têxteis, transformando paredes em grandes obras táteis. Algumas peças, inclusive, interagem com luz e movimento, criando uma experiência sensorial imersiva.
4. Alta-costura no mobiliário: A fusão entre moda e decoração se intensificou. Peças com veludo, broderies e texturas sobrepostas traduzem elegância emocional. A Armani Casa trouxe influências orientais para compor móveis com camadas de sofisticação silenciosa.
5. Aromas personalizados e inteligência emocional: A Moooi apresentou perfumes criados por algoritmos que traduzem o humor do usuário. Uma aplicação concreta da IA na criação de atmosferas domésticas sensoriais. A casa do futuro entenderá emoções — e reagirá a elas.
O DESIGN COMO ESPAÇO DE SENTIR
A Design Week Milão 2025, o “Fuorisalone”, mostrou com clareza que o futuro do design e do luxo não é somente sobre aquilo que impressiona, mas aquilo que toca.
É a experiência que desperta, o espaço que escuta, o ambiente que traduz quem somos. Vivemos a transição de uma era do “Inteligente” para o “Inteligente sensível”. E, como vimos no Talk “HUMANOS”, criar e empreender nesse novo tempo exige mais do que técnica: exige presença, empatia e coragem para ser profundamente humano.
Essa é a marca das tendências que vivenciei em Milão, e o norte para marcas, arquitetos e criativos que desejam permanecer relevantes.
